quarta-feira, dezembro 24, 2008

Constando


Dadas as circunstâncias, 
devo dizer que tenho dedicado demasiada atenção 
ao dado que me discorrera.

Sendo um jogo de dados matematicamente previsível
 e humanamente incerto, 
devoto certo respeito pela sua coragem.

Dizendo mais claramente: 
obrigada por ter entrado no jogo justamente agora.

terça-feira, dezembro 23, 2008

..Chata..




Um dia eu fiquei chata. 

Não lembro direito quando, 

nem como, 

mas alguns fatos ficam bombardeado meus olhos 

semi-cerrados ou semi-abertos

 (o efeito físico é o mesmo):


Quando eu troquei as arminhas de pressão e os ralados no joelho por bonecas e panelinhas de mentirinha.


Quando eu deixei de pegar jacaré no pescoço do meu pai pra lá da linha de segurança do mar e comecei a ficar na praia, tomando sol e ajeitando castelos de areia (ajeitando, não mais fazendo).


Quando eu parei de pedir pra lerem antes de eu dormir e comecei a ler pra me exibir e depois a ler para mim mesma...em silêncio.


Quando eu decidi que seria subversiva, que não gostava de gente comum, que era também gente vazia...Mas houve um fato que me fez ver, como num filme, os rostos todos padronizados, as lâmpadas de idéias todas acesas na mesma cor...Mas não lembro bem...Acho que envolvia um presidente ruim expulso seguido de outro presidente ruim reeleito e outro ruim também e reeleito também e o próximo que será ruim e reeleito igualmente pela mesma massa de bestas-quadradas (na qual eu e você estamos injustamente incluídos , é claro).


Quando eu virei artista pra mudar o mundo, esqueci do motivo inicial e comecei a achar que o mundo é que devia mudar. Depois retomei a consciência e reassumi a responsabilidade sobre as mudanças internas em prol de mudança exterior... E fiquei áspera comigo mesma.


Um dia eu fiquei chata, comecei a acordar de mau humor, ter manias, ter rebeldias...Um dia eu cresci e comecei a pensar sozinha, pão e circo me davam azia de repente,

...e o fato de coelho da páscoa não botar ovos começou a me perturbar de forma incomum e agoniante...

sábado, dezembro 20, 2008

.:: A Tempestade ::.


Que tipo de liberdade é essa? Condicionada...Condição do nada.
Claro que eu posso escrever o que eu quiser, desde que não emita opinião. E se eu quiser emitir? Não publique aqui. Ou melhor, tente... Vai ser editada mesmo...
Nada é válido. Tudo é suspeito. E extremos são impublicáveis.
Deve ser completo, mas não demais. Deixa na casca. Agora afunde as garras. Heresias da palavra!!!
Linguagem culta, mas não muito rebuscada, aliás, refinada. Se é que alguém entende e quer saber dessas palavras. Refinada lembra o açúcar...o pop entende então...
Esse não é o nosso estilo. Muda aqui, ali e acolá. Ok, esse sim é o padrão. Satisfeito patrão? Agora o estilo não é meu, mas vosso. Contudo é seu nome que vai, querida...
E eu que só queria me expressar... Acho que escolhi a profissão errada... Mídia comprada, hipócrita, corrupta e muda! Quem tem que mudar não sou eu! Emudecer é que não vou! A expressão é que tem que voltar a ser o que era antes...Extravaso, denúncia, questionar constante e incessável!
Por isso me dizem que minhas ideologias não durariam e que minha esperança é quase ingênua... 
"mas deixe que digam, que pensem, que falem..."

"Sei que minha força é quase santa, como foi santo o meu pesar...
Estive cansado, o teu orgulho me deixou cansado, 
teu egoísmo me deixou cansado, 
tua vaidade me deixou..."
"e você estava esperando voar, 
mas como chegar até 
as nuvens com os pés no chão?!"
(Renato Russo)

sexta-feira, dezembro 19, 2008

::.Instigo castigo.::


- Qual o contrário de castigo?

(silêncio)

- Por favor me digam, realmente preciso de vocês para descobrir. Qual o contrário de castigo? Tenho 85 anos e ainda não achei coerência na noção de castigo. Seria privação um sinônimo? E o contrário, eu preciso saber do contrário! Me ajudem !!

(pede com veemência a platéia)

- Quando fazia algo errado era posta no quarto, sem poder sair, às vezes até sem comer; mas era apenas uma simbologia de proibição de certas liberdades. E o não-castigo, o que era, afinal? Tento ver como a vida corrente, com todos os direitos que conquistamos. Mas agora estou confusa...O castigo é essa punição velha e conhecida que fazia de nossos quartos uma masmorra...tá, mas quando nos desligamos de nossos pais, quem nos castiga ? E de que forma?

“Toda nudez será castigada”

- Sei que Nelson Rodrigues nunca pensou nos dois lados de uma situação, mas voltando a minha dúvida terrível... Enquanto estamos vestidos estamos aproveitando os direitos que conquistamos, certo? Ah, a lógica não se aplica mais há tempos, falei, falei e pouco conclui, estou nua diante de vocês, me castiguem agora que eu sou minha própria juíza.

terça-feira, dezembro 09, 2008

.: Redação, boa tarde :.



- Telefonista ?
- Por favor, ligue no 9876-5432
- Ok.
- Obrigada.
(Desliga o telefone e aguarda. Telefone toca. Ela atende)
- Tu, tu, tu... 
- Alô?
- Oi, aqui é do jornal bláblá, meu nome é Fulana, gostaria de uma informação sobre...
(A conversa se desenrola em alguns formatos-padrão: cordialmente, de forma tensa e desconfiada ou quase que íntima).

A semelhança com Matrix não é mera coincidência. 
Esperança antiga e constante da repórter: 
ser sugada pelo telefone para fora da Matrix
 (ou para dentro de uma outra) 
e virar notícia.
Como até hoje ela não foi sugada, fica aqui a explicação do emudecimento de 3 segundos ao início de toda ligação; 
o silêncio é necessário para a retomada da consciência e reacomodação da mente entediada.
Mas ela carrega sempre uma barra de chocolates intacta e uma pílula azul,
 só para prevenir.

sexta-feira, dezembro 05, 2008

.e não me acomodar com o que incomoda.

Vi um filme, "holy smoke", traduzido erroneamente como Fogo Sagrado e ambos colocados erroneamente como título de uma boa produção cinematográfica com ótimos atores e péssimo roteiro.
Pronto, falei de algo palpável de forma suscinta e direta.
Satisfeito? Eu não.
Sei que você sempre me diz que sou péssima ao tentar colocar verbos em frases e que se tirassem os adjetivos da minha vida eu ficaria muda. Ah, sei também que você jamais admitiria que disse isso e que eu estou borboleteando seus comentários...Mas lamento lhe decepcionar, vou falar sobre inebriações;

Essa fumaça morna que vem,
completa um vazio sedento por quem
procura algo de novo no "vem".
Vai vir até a mente e despertar mistérios,
vai chegar até os olhos e confundir os tédios,
vai passar pela memória e esclarecer bobagens,
vai então usurpar as formas cansadas dos mesmos nomes.

e eu acho que tenho certeza daquilo que eu quero agora...