terça-feira, setembro 23, 2008

Cronicando 2

Morfologia em Pane

Começam mudando o nome: Monte Pascoal, Ilha de Vera Cruz, Terras de Santa Cruz, Nova Lusitânia, Cabrália... Aí mudam o sistema político, a organização social, o destino das árvores, o fuso horário, a língua !!!
Guarani era uma língua legal sabe, Tupi é lindo! Tem origem Celta e dizem que até Fenícia ! Mas história não vem ao caso, talvez ao ocaso.
Gramática é a questão. Eu estudei os verbos de ligação, decorei a regência verbal, e tenho as regras de acentuação martelando minha memória de todos os jeitos possíveis!
Fiz musiquinha, esquema de cores, enumeração, e todas as outras técnicas possíveis e imagináveis de memorização. Portanto, estão bem gravadas aqui (ocupando o espaço de um poema talvez).

Mudei meu nome!!! Sim, para os que foram desafortunados como eu e o escrivão do cartório não decorou os esquemas de acentuação: tive que mudar a grafia do meu nome! Hiato, seguido ou não de 's', leva acento! Portanto, Laís tem acento!

Agora, depois daquela balela toda de independência, vem de novo um português me dizer pra tirar o acento da feiúra? Tirar a trema da lingüiça? E "para pôr", vai poder ser "pára por" ou "pára por" ou ainda "para por" ?! (Se é diferencial o acento, é porque tá lá justamente para diferenciar...).
Hoje são os acentos das palavras. Daqui uns dias são os assentos da ABL - que ao contrário do que o título "imortais" sugere, deixam suas cadeiras sim, deixam também os nomes, mas apenas quando saem da vida...

Mudar regras não é bem assim. Não dá pra simplesmente substituir sem deixar resquícios, sem causar choque e confusão. É como se, partino de hoje, todos devessem ter cabelos compridos. Levará tempo para deixar crescer, causará desagrado (principalmente aos homens que não saberiam conviver com o "cabelo de dia de chuva"), e surgiria resistência.
É claro que as regras e leis devem adaptar-se ao seu tempo sócio-histórico; mas as palavras, coitadas, de tão usadas se tornaram pedras, muralhas, carimbos. Significados tão atrelados aos sentimentos de tantos escritores que seria impossível idéia significar ideia.



Cronicando 1

Durante um tempo vou apenas cronicar. Cotidianamente deturpar histórias possíveis e improváveis, ou prováveis e inimagináveis. Enfim, a primeira de muitas: 

Solidão a Dois

- Ele chegou! Ele chegou!

A porta range, um dedo aperta o botão piscando na secretária eletrônica. Como um café seria bom agora. Dentro do armário apenas variações de cores do mesmo produto (macarrão instantâneo), e nada de café.

-Ei, como foi seu dia? Que bom que você chegou, esperei o dia todo por você. A campanhia tocou quatro vezes e telefone oito. Eu fiz o que pediu, não subi na sua cama... Por que você não olha pra mim?

Ainda tem capuccino. Ah, um café vai ser bom. Os oito recados acabaram, nem prestei atenção, vou pôr de novo enquanto ligo a água do banho. Como ela me faz falta. Que cheiro estranho, será que é o lixo? Ela faz falta mesmo. Não é possível que eu tenha que tirar todo dia!

-Olha, achei sua meia, tomei cuidado para não deixá-la ainda mais úmida. Eu estou faminta, mas tão feliz de vê-lo; um pouco velha para dar tantos pulos consecutivos, mas tudo bem, por você vale a pena... Se ao menos você me pegasse no colo como ela fazia, como você fazia com ela...

Deixei a banheira transbordar outra vez. Quando ela estava aqui dava tudo tão certo...Ainda não me livrei das fotos, livros, perfumes, cds. E a cadela ?! Tem os olhos dela, não consigo nem olhar. Acho que ela quer comida. Será que existe asilo para cachorro? Tenho que me desfazer de tudo que era dela; meu psicólogo disse que é para deixar o amor se desfazer, aos poucos... E cadê o outro lado da minha meia?

segunda-feira, setembro 22, 2008

.. Amo ..

Se um dia eu for metade de quem essa cadela pensa que eu sou, estou realizada na vida.
Amor incondicional, leal, verdadeiro,
sem interesses, sem defeitos, sem proibições,
sem porém, sem cobrança,
sem adeus,
só de cão.
Tá, às vezes a gente acha uns cachorros dipostos a idealizar um novo amor,
mas depois de um tempo eles latem, a gente morde e eles fogem.
Comemoro internamente quando chego em casa depois de um dia de muito ônibus, cadeira e teclado. Mas quem festeja mesmo é a cadela, ela pula e late e rodopia de verdade.
Pudera eu expressar minha festa interna com a mesma verdade com que ela o faz.
E se ela não gosta, rosna.
Se quer comer, pede.
Se precisa de banho, rola na grama e vem me mostrar que está se sentindo suja.
Se não gostou da música, sai do quarto e não volta até eu trocar.
Se não gostou do novo namorado, não deixa ele chegar muito perto de mim.
Se a crônica da noite não ficou boa, ela boceja me mandando dormir.
Queria eu poder ser prática, objetiva e sincera.
Um dia eu chego lá,
já me permito uns minutos a mais na cama,
já decido com mais convicção,
já festejo com mais intensidade,
Ainda não consigo afastar os maus namorados, mas já não depende só de mim.
O comportamento canino da Nina é um exemplo para a humanidade,
disso meu librianismo não duvida.

sexta-feira, setembro 12, 2008

.: As formas transformadas :.

Confusão é desatino da mente.

Falta de educação e provocação descarada.

Pensamento é linear e preciso.

(racionalizar é preciso?)
*
É que eu sou atriz e tudo o que eu fiz foi por fingir,
por fingir demais que ninguém me diz o que sentir,
por fingir que nada me faz sentir de verdade,
foi por me impermeabilizar do real e viver nas entrelinhas.
E quando a cortina fecha e me acham sozinha no meio do palco eu fecho os olhos, finjo que não estou, faço um movimento inesperado, mudo o foco, desvio a atenção...
*
Eu quis te convencer, mas chega de insistir...
Pode ser a eternidade má, caminho em frente pra sentir saudade...
Everybody thinks that I'm sad...will hear my words.
I feel allright that we can go away and please my day...
I'll let you stay with me if you surrender

(Marcelo Camelo e Mallu Magalhães - Janta)

quinta-feira, setembro 04, 2008

.:: Mulher Sem Razão ::.

Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.
(Clarice Lispector)
*
Mas então a manhã veio e me segredou cores incríveis.
Não tinha muita vontade de virar tarde, mas virou.
Tampouco queria anoitecer, mas o luar clareou sua ausência.
A manha que as estrelas fazem para convencer as nuvens a lhes dar espaço é invejável.
*
Enquanto os galhos do pensamento dela se retorciam para se desvencilharem de toda memória indigna,
enquanto o vento fazia malabarismos para despentear seus cabelos,
enquanto sua música favorita tocava,
enquanto tudo que era eterno escorria na espuma do suco de maracujá se derramando,
enquanto todas as coincidências gritavam para refazer o desfeito...
Ela fugia.
*
Não queria mais brincar de esconder e se mostrou,
se expôs tanto que foi achada.
Mas esqueceu de avisar... De dar o manual,
aliás, não era pra se usar,
nem pra entender,
menos ainda pra brincar,
só era pra ser.
Mas não foi.
*
"Mas tem sempre algo mais...
Seja como for, é uma dor que dói no peito,
pode rir agora que estou sozinho,
mas não venha me roubar..."
(Renato Russo)