quarta-feira, maio 27, 2009

Um dia o sol nasceu mais cedo,
eu sabia o porquê.
Era aquele dia que a gente sabe que vai chegar, mas quando chega pensa que ''po, justo hoje?!''
Tinha um menino (sempre tem um menino)
e ele me ensinou como o silêncio fala.
um dia ele falou que ia fazer silêncio em outro lugar,
para ver se as pessoas de lá saberiam entender o que se sente no não-falar.
Ele foi nesse dia. Minha fortaleza para Fortaleza.
Tão longe da terra do pôr-do-sol alaranjado...
Acho que por isso ele foi no nascer do Sol...Saudando uma última aurora.
Mandei um pedaço de mim com ele, pra garantir que ele volta.
Ele deixou o silêncio aqui, e só.
Agora eu,
que sempre entendi o não-som,
penso no que ele quis dizer com esse último calar.
Será que era para eu ter dito algo dessa vez?
Veio tristeza, revolta, agonia, saudade, desespero, lembrança e... Calmaria.
Sei que ele volta para me devolver aquele pedaço de...
Mas mesmo assim, quando não saúdo o Sol ao acordar, ainda vem às vezes a tristeza, revolta, agonia...........
Eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada (Clarice Lispector)

sábado, maio 09, 2009

No Fear


Eram 19h13. Mais um dia saindo tarde do trabalho e aproveitando a brisa noturna ao voltar para casa. Tempo de fazer os 5 minutos necessários virarem 12. Tempo de aproveitar a Lua quase cheia.
Estava escuro e fresco, umas poucas pessoas passavam por mim apressadas, na direção oposta, rumo ao ponto de ônibus.
Não era sua pressa ou distração que me incomodava, mas seus olhos. O medo estampado em rostos jovens, a desconfiança nos rostos mais velhos. Alguns, querendo me espantar ainda mais, olhavam para trás constantemente.
Era medo da liberdade que vivenciavam naquele momento.
Como se não acreditassem que nada lhes acontecia e que, por aqueles minutos de silêncio e paz, a noite era deles, o que acontecia era a respiração e os passos, nada mais.
O medo projetava situações de risco em suas mentes, e a atenção se tornara tensão.
Não era medo da violência ou do roubo, era medo da plenitude. Estar em si mesmo e consigo mesmo assusta. A perfeição daquela noite fazia com que o medo tivesse de ser esforçar mais, e ele conseguia.
"é pela paz que eu não quero seguir, é pela paz que eu não quero seguir admitindo..."

segunda-feira, maio 04, 2009

Unknown

Quando olho para um sorvete não sei se sinto frio ou calor.
Duas sensações opostas coexistem num único ''objeto''.

Em um filme, a mocinha recusa o sorvete que o mocinho oferece,
porque "é algo doce, que te faz sentir bem, mas derrete em cinco minutos".
E nesse dia fazia frio.
A amiga de fossa comeu meio pote, num dia de calor, mas tinha uma desculpa.

O que intriga mesmo é a sensação de calor sem associar ao sorvete,
A sensação de vazio sem o frio.

Lá fora há névoa - o que o frio ainda tímido manda pra avisar.
Tem ainda a lembrança - o que a memórica irônica insiste em despertar.
É Maio, mas parece Setembro.
As despedidas começam antes, sem que o coração tenha tempo
de deixar ir o calor e absorver o frio que vem...
É só saudade, mais uma vez...

"Uma noite longa para uma vida curta, mas já não me importa, basta poder te ajudar. E são tantas marcas que já fazem parte do que eu sou agora, mas ainda sei me virar. Eu tô na lantaerna dos afogados, estou te esperando, vê se não vai demorar..." (Os Paralamas do Sucesso)

Tenho ideias que não sei se são de dor ou tampouco desalento, mas são ideias impronunciáveis. Roda de Samsara.