..:: Enquanto durmo ::..

Minha cabeça e tudo que está sob mim agora giram.
Giram num ciclo estranhamente inconstante.
Molha, seca, esfria, esquenta, escurece, clareia. E deixa ser. Não mais seleciona os pensamentos nem até onde esses devaneios vão, só os cria, cria e abandona como uma serpente que sabe o que faz mas a primeira vista é cruel.
Até o caos tem sua lógica.

...::: Eu faço a cena que eu quiser :::...

Lhe desenhei com tanta perfeição,
Impassível de erros,
Imune à dor, à paixão, à efemeridade.

Lhe desenhei assim: luz e sombra,
Dentre as formas que inventei,
Dentre as vozes que lhe dei,
Nenhuma desenharia agora a coleção de vidros embaçados que usei para observar-lhe escondida.
Construí também um longo caminho,
Com as melhores paisagens (que escolhi a dedo. Ousei até misturar um pôr-do-sol que gostou com o luar maravilhoso daquela festa!) fiz até um calendário só nosso! A Terra giraria no compasso daquelas músicas que embalaram o que nunca vivemos...

Agora reformo meu mundo para mim mesma,
Agora lhe reformo, e vc nem sabe.

>> You're just the best I ever had <<

Ver através de olhos que nem são meus,

Viajar por histórias que não vivi,

Delirar em gêneros literários que não dou importância,

Querer estar perto quando já se está,

Espantar-me com cenários comuns,

Desprezar as cores,

Ampliar a visão.

Sobre uma mesa repousam escritos que não dizem absolutamente nada, descrevem e detalham sensações e emoções com tal ousadia que acabam sendo arrogantes, insuficientes. (ou desnecessários já que essa trama eu conheço bem)

Qual a diferença dessa vez? Feeling. Feeling.

.. You do something to me that I can't explain ..

Quando o pôr-do-sol (dessa forma assim urbana) for insuficiente pra dizer aos olhos que uma tarde que ele impera pode se tornar inebriante, surge a música.
Um misto de ausência de palavras e excesso de sentimento, simplesmente cala, e nem a batida mais perfeita descreve.

<< Sempre e sempre em paz >>

Falatório incessante,

Devaneios sem fim.

Paraíso inconstante,

Nunca vai ser normal pra mim.

Métrica interessante,

Para dar em nada no fim.

Curiosidade agonizante,

Não me olhe assim!

Pensamento itinerante,

Não falo por mim.

Revolta gritante,

Início do fim.

Rima irritante,

Bem melhor assim.

"vai passar na televisão/ todos com a documentação / ordens são ordens / e eu não quero ficar na mão"

..:: Os elefantes nunca esquecem ::..

E esse jogo é tão frio.

Nem mesmo a sombra de um sol inexistente
Eufemiza as ramificações incoerentes que o pensamento toma nessas noites de reflexão.

Lance o dado outra vez.

A superfície prática e racional de respostas prontas

Toma seu novo rumo,

Mentira, mentira, mentira !

Escorrega então ao tentar subir. Por que?

Não merece.

E não merecer é pior que não ser capaz,

Pior que andar pro lado errado é andar nú,

E todos sabem que sua dignidade é insuficiente.

Fique sem jogar uma rodada.

Assista agora a ascensão de seus oponentes,

Aprenda com a derrota da pior espécie,

It is just another cold play.

..:: Joga fora no lixo ::..

Seleção de elogios.
Hoje resolvi jogar fora os excessos;
Beleza demais cansa, pro lixo.
Cinismo demais irrita, pro lixo.
Cores demais intimidam, pro lixo.
Perfeição de mais é quase plástico, lixo.
Sorriso demais expõe, pro lixo.
Muro demais chama atenção ao invés de esconder, lixo.
Voz demais transpõe, lixo.
Palavras demais exaustam, pro lixo.
Idéias demais confundem. L - I - X - O.

Mas a arte, a arte é desigual a todos os outros excessos, ela é o equilíbrio, é o ponto único onde pode coexistir o sim e o não, e mesmo no lixo... Impressiona, alucina, devaineia, inebria, cativa. Ah... O lixo...

..:: Maquiagem ::..

Por mais que brinquemos com as palavras,
A intenção é única.
E definitivamente, por mais que mudem as cores,
O som é o mesmo.
Brincamos de dar vida a sentimentos indescritíveis e eles não mudam de forma.
Que bom.

..:: Runovered ::..

Montei e remontei um mundo perfeito,

sempre me cansava dele.

Queria mais, sempre mais,

e o tempo era tão injusto que me tirava a vontade antes que eu pudesse executar os novos planos pro meu mundo.

E novamente eu me cansava.

Começava tudo de novo,

aí aceitava um palpite, outro e outro,

e logo me dava conta que nem era mais meu mundo.

E começava tudo de novo.

Resolvi povoar meu mundo e me deparei com os mesmos problemas,

perfeição demais gera caos,

e os moradores começaram a se paradoxar,

nem ao menos se falavam, mas nem era preciso,

encaixei peças de cores diferentes numa moldura limitada.

Ilimitada só "a vaga idéia de paraíso que nos persegue: bonita e breve."

..:: Flores de Plástico não Morrem ::..

Há faces por todos os lados
Há faces em tudo o que eu vejo.

E essas pessoas de coração tão frio são de índole mutável como o gesso, mas com tal fragilidade....
Não respiro por suas palavras, nem mesmo delas eu bebo.
Seus olhos são de uma moldura tão opaca que arrebata meu silêncio e cala meu coração.

Procurei uma contramão, mas as ruas não colaboraram, e as faces ainda estavam por todas as calçadas...

>> Luz dos Olhos <<

Dependendo do ângulo que se vê,

Nem se é visto.

Depedendo do porque se olha,

Nem é culpado.

Dependendo da sutileza do movimento,

Nem se é notado.

E a luz vem tão essencial e tão reveladora quanto uma verdade, num momento inapropriado de completa solidão.

..:: You gotta be stronger ::..

Uma sutileza tão engenhosa...

Atrai, cativa, acalma, convida, incita e... machuca.

Apego.

Sim, és extremamente responsável por tudo aquilo que cativas.

É simples dar a rosa à outro, recebê-la exige confiança, escolhe-lá exige amor.

Que esses espinhos caiam ao toque de uma mão decidida, que essa asperza se quebre diante de tanta determinação, que o vento desista de farfalhar as folhas quando suas mãos envolverem um novo botão.

Folhas róseas em meio ao verde, tão diferenciadas e tão necessárias... Espero que na próxima estação floresçam rosas de uma cor só, as colorids são mais exigentes.

Mas acredito que as coisas possam mudar, achei que fosse cair numa chuva de verão, mas a gente precisa ser forte, a gente precisa ser direto e equilibrado, então que assim seja. Apegar-se afinal nem é tão mau assim.