segunda-feira, julho 15, 2013

Voltar

Essa história de voltar a fazer algo que há muito não se fazia é no mínimo perturbadora.
Escrever sem pauta
Sair sem rumo
Não ter horário fixo
Essas coisas livres demais.... São assustadoras.
Nascendo e renascendo em mim constantemente, vamos ver se pego o jeito novamente nisso que eu costumava chamar de esconderijo e agora já se transformou em exercício de ser.
Escrever....Escrever....Repetir até ficar diferente, diz Manoel de Barros.

domingo, maio 16, 2010

Ar pra...

É preciso ar pra se inspirar,
harpa tocar.
Quando a lua sorri assim, de lado, como hoje,
parece que o universo também me olha de lado -
e o que era infinito toma forma.
No movimento delicado das cordas que vibram
que permitem tantos dejavús quanto eu possa vivenciar
que fazem tantos ruídos quanto eu possa captar
cordas. Cordas com ar pra....
ressoar

quarta-feira, março 10, 2010

.: Pecado original :.


A casca vermelha-amarelada já anunciava onde acabaria a história. O mesmo cheiro, a mesma textura, o formato também, igual. Era ela quem mais uma vez estendia o braço oferecendo e ele quem hesitava antes de aceitar de novo. No momento em que o sabor suculento daquela maçã atravessasse o limite das papilas da língua estava feito o estrago novamente...

Nessa nova temporização cortou-se um personagem. A má ideia não partiu uma serpente e o grito de "heresia" não veio do alto acompanhado de raios e trovões. Era de dentro deles que brotava a culpa. Todo o injusto peso da moral rompida afundava o pouco que restava da esperança. Expulsão de si mesmos. Como uma borboleta que eclode da casca deixando a forma de lagarto. Os dois passariam pelo mesmo processo, porém inverso: tentados pela possibilidade de provar o novo já conhecido, caíram na infração e agora, com as asas do desejo cortadas, teriam de caber novamente no ingrato corpo de um ser rastejante.

Talvez aí a figura da serpente da história original reapareça na narrativa - a criatura que rasteja em silêncio dentro de cada mente humana, aguardando o momento exato para chegar aos olhos e polir uma simples maçã para a visão desatenta. É o que basta para se perder as asas - uma mordida errada, a repetição da história, a ânsia da pressa; e só.

segunda-feira, março 01, 2010

.: A no Amor :.


Há no amor um pouco do que se chama de desfoque.
Não é que falte técnica, não é que falta paciência, muito menos falte tempo; é que ele não foi feito para ser exato mesmo.
Há no amor um pouco do que se chama de defeitos da visão.
Vemos o que é, o que não é e tudo o que dança em cores, sons, sensações e cheiros em volta.
Há no amor muito do que se chama loucura.
Por acreditarmos em absolutamente tudo o que os olhos não vêem.

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Pan dor A

Sem muito motivo, um dia o sentimento extrapola.
Explode como bexiga que se assopra demais.
O problema é que nem sempre o ar é puro e não é toda borracha que contem o grito.
A solução é que às vezes o ar é leve e mesmo explodindo ficam os restos...
Restos de um mundo que ainda não foi

domingo, dezembro 27, 2009

Trans sem ência



Um pouco do que sei sobre espiritualidade:

- Tudo que eu disser é contestável
Cada olhar sobre o mesmo assunto gera uma dúvida diferente.
Cada experiência gera tantas conclusões que no final se esquece do objetivo inicial.
Nenhum extremista assume que o é.
Nenhuma doutrina é perfeita.
Mas...
que importa?
Para que servem dogmas senão para limitar a visão?

Um comentário sobre o filme Avatar, para que a realidade não seja mais uma vez ignorada:
"Sou um guerreiro em busca da paz, mas tem uma hora que é preciso acordar"
Acordar não é sinônimo de desistir, e sim de mudar os planos, adequar às novas situações, repensar, replanejar.
Acordar é olhar para cima e acreditar, é olhar para dentro e despertar sem sonho.
Que as conexões sejam refeitas, que a Mãe Terra abrace o que restou de amor na humanidade, que o novo ano seja....Bom.


quinta-feira, novembro 19, 2009

.Me peça.


Mesmo com toda a perfeição e precisão evidentes...
Mesmo com a paixão declarada ao funcionamento do quebra-cabeça,
Devo admitir que existem peças que simplesmente não se encaixam.

Claro que isso é uma metáfora.
Claro que eu quero falar da vida, dos seres, do universo e tudo o mais.
Claro que quero mais uma vez declarar-me às borboletas.
Claro que vim me render à metamorfose.

Das utopias mais saudáveis às mais impossíveis,
uma máxima me guia:
-Porque não?
Movendo objetos, portões, pessoas e até aviões, a falta de resposta convincente a esta pergunta tem rendido várias histórias.

Um dia eu conto tudo movendo alguns rolos de impressão.

Por enquanto vou acolhendo o que tem sido ignorado no mundo e poetizando as belas relações reais.
Quero pessoas com um brio, porque só a vontade é suficiente para mover o mundo.
Começar com menos para não assustar... Uma peça talvez... Apenas me peça, ensino que para montar com perfeição o trabalho tem que ser feito individualmente, sem pular nenhum espaço, encaixando uma a uma...

sexta-feira, novembro 13, 2009

Desenquadramento


Não é que eu vá ficar redonda,
Mas só de tirar as linhas retas e o formato padrão já dá pra respirar melhor.

quinta-feira, novembro 12, 2009

.Cartas Para Não Chover.

Hoje teve uma peça, uma estreia.
Aliás, várias estreias em uma peça;
Vi um parque servir de teatro, vi uma plateia indo de fraudas a rugas em total silêncio, vi o temor dos novatos, vi a apreensão dos gaiatos.

Não é que a poesia do imaterial já não me sirva mais,
é que, me repito, a realidade tem compromisso comigo, mesmo eu e a literatura nunca tendo assinado compromisso com ela.

Insisto em poetizar mesmo assim
120 pessoas em cena. E pode isso?
Teatro pode tudo e ainda assim o temor de Clarice, a Lispector, não se concretizou, o peso das palavras não esmagou as entrelinhas.

Com um caderno e uma caneta ousei entrar no camarim.
O que passa na cabeça de cada um 10 minutos antes de deixar de ser si mesmo?
"-Me diz uma palavra. Qualquer uma. Vamos, não pensa muito", eu repetia apontando com o queixo os desavisados que passavam por perto;
Que ousadia, pedir uma só palavra. Que injustiça fazê-los escolher.
Nem me apresentava, para quê?
Senhorita jornalista do veículo tal = "bla bla blá, eu quero te usar como personagem apenas?" Não era isso que eu queria. Não é isso que eu quero.
Nada de reduzir pessoas a personagens. Histórias são reais, ainda que não tenham sido vividas. Sentimentos são reais.
Adélia Prado pegou o amor e socou no pilão com cinza e grão roxo para fazer remédio.
Eu só pedi uma palavra.

Elas ficaram espalhadas assim, livres como uma estrela perdida no céu de chuva que não veio: Amizade, magia, ameixa, banana, coração, alegria, vida, cores, nervosismo e amor... que se repetia sem cessar.

As cartas abertas, o palco aberto, a roda antes da estreia, mesmo com as mãos todas dadas....também aberta. Aí o grito só pra quem entende:
"MERDA!"

terça-feira, novembro 03, 2009

.Escola.


Para transformar as ondas em som é física
Para explicar felicidade é química
Para definir amor, não tem matéria

Sem ilusão na poesia batida do dia a dia
A palavra ficou gasta
O sentimento, talvez por isso, as vezes mudo.

Mesmo com a Lua cheia e âmbar às seis horas da tarde
Falta a voz, a presença, o abraço.
O céu me basta.
A luz me inebria
me completa,
me abastece.